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Moral da História | Poética

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A coluna Moral da História tem como objetivo trabalhar a moral de cada leitura. A cada 15 dias trago reflexões, poesias, textos ou comentários inspirados nos livros que li (nada de trechos copiados do livro), contando o que aprendi ou senti com cada história.

Falar da poeta Ana Cristina Césaré falar de alguém com quem me identifico, mas estou longe de conhecer. Ao pensar na Moral desta semana, imaginei falar de séries ou então de um livro cuja leitura não terminei, mas estou amando. No entanto, entre uma parada e outra, me peguei folheando Poética, a publicação do gênero mais incrível que já li. Uma das poesias, especificamente, me disse mais que um livro inteiro em uma semana.

Para quem não conhece, a autora é uma das referências da chamada poesia marginal e teve seu auge nos anos 70, quando suas publicações alcançaram boa parte da classe média carioca. Infelizmente, aos 31 anos, a escritora se suicidou.


lá onde o silêncio é relva
de lá corrói-se hoje o texto
corrói-se porque hoje o agarra

o pré-texto que nunca se alheia
e o antecede em silêncio
lá onde os signos me esquecem
separados pré-texto e soneto
esqueço que os tenho alheios
à pressa de separá-los
esqueço que lábios e signos
sem pressa se fazem relva
e inscrevo desconhecido
o último verso desgarrado:
               
26.9.72

Esse poema não tem nome, nem mesmo especificações. Mas mexe comigo como se fosse eu a escrever: é no meu silêncio que corrói-se o que escrevo e é onde escrevo que esqueço meu jeito de ser, ou simplesmente uno quem sou a quem quero ser. Não sei se é confuso pra vocês, fato, mas faz muito sentido pra mim. Cada poesia escrita por ela tem algo de fantasia e algo de real. Para quem curte o gênero, não é difícil se identificar com algum dos rascunhos.

Recomendo!!!

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